quinta-feira, 11 de março de 2010

Às vezes

Às vezes é como se ele não tivesse morrido.
Às vezes é difícil chegar até a sala e ver o lugar em que ele sentava no sofá agora vazio.
Às vezes me pego lembrando em todas as vezes que eu esperava ele chegar da universidade, mesmo que eu estivesse morrendo de sono, só pra dar um beijo nele.
Às vezes saber que nunca mais vou abraçá-lo é o pior dos sentimentos que se abatem aqui dentro.
Às vezes é como se eu achasse que ele nunca deveria ter começado o tratamento.
Às vezes me culpo por não ter impedido o médico de aplicar a segunda dose de quimio.
Às vezes achei que não cuidei bem dele. E agora tenho quase certeza.
Às vezes me culpo por ter insistido tanto na gastro.
Às vezes acho que sou culpada.
Às vezes choro mesmo sabendo que nãao deveria chorar. Pelo menos não na frente da mamãe.
Às vezes tenho medo. Não dele. Mas de que ele não me perdoe.
Fui eu quem assinou a internação dele.
Fui eu quem autorizou a gastro.
Fui eu quem resolveu que a vovó não iria mais esperar no pronto socorro, mesmo sabendo que daria tempo se a gente esperasse mais dez minutos. Eu já estava desesperada.
Às vezes acho que não vou conseguir.
Às vezes me arrependo de muitas das besteiras que já fiz.
Às vezes me arrependo de todas as vezes em que não aproveitei mais cinco minutos ao lado dele quando ele assistia televisão, quando líamos juntos ou quando estávamos na mesa.
Às vezes é como se eu ainda mal acabei de ver trovões por trás do carro funerário quando o 'simpático' agente ffunerário me mandou conferir o material que foi pedido.
Às vezes é como se tudo aquilo que vivemos juntos um dia quando estávamos saudáveis já tenha passado tanto tempo que não consigo nem mais recordar.
Às vezes é só o tempo que pode responder.
Às vezes eu lembro que eu ainda preciso dele. Muito. Sempre.





PS: faz um mês já. A missa vai ser na mesma capela da missa de sétimo dia, mas agora às 18:30. E eu ainda não me conformo.

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