segunda-feira, 9 de maio de 2016

Minha Lady Laura



Ontem eu falei para minha mãe que odeio ganhar flores. Que eu acho que flores não deveriam ser presentes que damos às pessoas. Não só pelo fato de eu ser alérgica. Mas as flores morrem. As flores têm cheiro de morte. E é um processo doloroso da vida, muito embora seja o único que sabemos que vai acontecer, mas acho realmente mórbido receber flores.

E hoje eu comprei flores. Hoje eu presenteei flores. Hoje foi meu primeiro dia das mães sem a sua presença e eu acabei comprando um vaso de flores brancas para deixar ao seu lado.
Foi a primeira vez que eu não fui ao shopping sem nenhuma noção do que dar de presente. Foi a primeira vez que não a abracei no dia das mães. Foi a primeira vez que não apertei suas bochechas. Foi a primeira vez que não pude conviver com minha mãe (segunda mãe, mãe de criação, o que quer que seja) e que, ao mesmo tempo, tornou-se minha filha durante nove anos.
No ano passado eu não comprei presentes significativos, mas comprei algo de perfumaria que usávamos tanto em suas trocas, seus banhos. No ano passado eu já não recebi um abraço seu daqueles que só existiam entre nós duas, pois sua consciência já não estava mais por aqui, nem suas forças ou reciprocidade.
Hoje, apesar de saber que na realidade não existe nada além de alguma matéria lá, fui ao cemitério. Comprei flores apesar de ter sempre ouvido "Depois não vai adiantar me dar flores" de sua boca durante tantos anos. Fui lá e vi sua foto ao lado da foto do papai. Vi seu nome na plaquinha ao lado do nome do papai. Me dei conta de que faz 11 meses que eu a abracei pela última vez. Há onze meses eu a vesti pela última vez.
Pela primeira vez eu chorei sem me importar se minha mãe estava ao meu lado. Na verdade eu me importei, sim, pois só assim consegui conter as outras lágrimas que escorreriam se eu não tivesse segurado o choro no meio do cemitério. No meio do choro.
Senti falta do seu abraço. Senti falta de apertar suas bochechas e dizer que eu tinha a bebê mais linda do mundo. Senti falta, claro, também de sua fase sem Alzheimer, na qual sua fala conteria muitas palavras de chantagem emocional, sim, mas também muito amor e carinho. Amor que eu sempre recebi e não sei ao certo se doei na mesma proporção ou intensidade. Senti falta desse amor. Mas, não se engane, eu sei que o amor ainda nos une e existe.
Eu só (ainda) não sei direito como fazer para não doer.
Sinto sua falta mesmo sabendo que eu a tive por perto mais tempo do que eu poderia imaginar ter. Ainda sinto saudade. Ainda dói não vê-la. Ainda dói não fazer brincadeiras. Ainda dói não abraçá-la e cantar boleros. Ainda dói não ver o brilho de seus olhos em milésimos de segundo quando alguma sinapse não danificada conseguia identificar que eu era uma pessoa da qual sua memória afetiva não esqueceu.
Senti muito sua falta nesse primeiro dia das mães após sua partida.
Senti muito a falta de um abraço.
O seu, claro, que ninguém poderá substituir, mas também o abraço de alguém que não me julgaria por eu estar sentindo saudade de alguém que já se foi há onze meses, pela qual fui criada e da qual eu me senti mãe por alguns anos. Senti falta de poder chorar como eu chorava em seus braços, principalmente por não tê-los mais por perto. Senti tanta falta de quando, em seu colo, suas mãos afagavam meu cabelo ao me dizer que no dia seguinte tudo estaria bem outra vez.
Eu a amo, amarei para sempre.
E para sempre será minha Lady Laura.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Again.

Here we are.
Here we go.
Again.