domingo, 19 de setembro de 2010

A noite

Eu estou andando. Em alguma rua por aí, algum lugar por aí.
De repente sinto um incômodo. Não me importo muito, continuo o que estava fazendo.
Me encontro com algumas pessoas. Não me pergunte quem seriam, eu não saberia responder. O incômodo aumenta, transforma-se em algo inexplicavelmente assustador, petrificador.
Caio no chão. Não sei se me machuquei com a queda. Não conseguia sentir outra dor àquela que me sufocava.
Atordoada, eu clamava às pessoas que me levassem a um hospital. Eu realmente não via mais nada.
Me dei conta que não conhecia mais os lugares, não sabia por onde andava, por onde me conduziam ou quem me guiava. Sim, eu estava presa em um sonho.
Percebi que o sonho, no entanto, continha algo muito real em si.
Aquela dor nauseante, me fez contorcer mais do que dez cobras enjauladas em samburás disfarçados. Tanto no sonho quanto em minha cama.
Demorei para conseguir acordar. Foi difícil perceber a realidade.
Era difícil demais perceber qualquer coisa além daquela dor.
Já acordada, com a respiração ofegante, me contorcia ainda mais, revirando-me em meio a lençóis, cobertores e edredom.
Movimentos mais involuntários do que voluntários, os dentes rangiam e a presença daquela dor me atordoava ainda mais.
Percebi que era de madrugada, não queria acordar ninguém. Relutando com minhas próprias forças, consegui estender meu braço e ver o horário.
Quatro e meia.
Teria de acordar em menos de duas horas para poder ir trabalhar.
Mas já estava acordada. Ou melhor, já não dormia.
Procurei, durante mais alguns minutos, alguma posição que já fora tentada antes e que novamente não surtira efeito.
Fui procurar a solução com mamãe, que com carinho e chá (além de orações) pôde aliviar a dor a ponto de que eu conseguisse me manter em pé e dar aula.
Consegui. Fui.
Agora não sinto mais aquela horrorosa dor.
Agora só me restou este incômodo que não sei descrever, mas que me faz estranha.
Sinto-me estranha.
Uma própria estranha dentro de mim.
E que está morrendo de medo de ir dormir e ter a repetição de uma dor em sonho, mas dessa vez, não conseguir acordar.

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