quinta-feira, 4 de junho de 2009

Hoje, no Sírio

Hoje vi uma menina que não devia ter mais que 10 anos, e até aí vocês me dizem: "tá, grande coisa...", mas a questão não é bem aí.
Ela não estava passeando na Av. Paulista, andando pelo metrô ou brincando enquanto anda na rua.
Eu a vi em um lugar muito bonito e chique, mas que ainda assim, não deixa de ser um lugar que para mim e para essa menina vai sempre ser a imagem de uma época de tempos difíceis.
Aliás bem mais pra ela do que para mim, já que eu sou só a asompanhante (e acompanhantes sofrem, mas menos do que os acompanhados, obviamente).
O Sírio é um Hospital bonito e chique, e quem dera eu a tivesse encontrado lá no Hall brincando ou acompanhando os pais a alguma visita ou algo assim.
Eu a vi enquanto eu estava na sala de espera da Radioterapia, enquanto papai não era chamado.
E vi nos olhos dela o mesmo sofrimento de quem passa por uma doença séria e a esperança de que se dê certo. Coisa que vejo bastante ao olhar nos olhos dos pacientes que são os "colegas de tratamento" do papai.
E também vi nos olhos dos pais o sofrimento que se tem quando se vê alguém que a gente ama muito passar por um sofrimento tamanho, que são essas doenças relacionadas com o câncer, no nosso caso.
Vi nessa menina sentimentos que tenho em meu coração quando penso em tudo que já aconteceu com minha família e em tudo que já vi pessoas passarem.
Senti como se eu fosse um Dálit (é assim que se escreve?) lá da índia: uma poeira.
Eu não sou capaz de amenizar o sofrimento dela, eu não sou capaaz de curá-la, eu também não sou capaz de tratá-la ou assegurar que sim, tudo irá dar certo.
Vi naquela menina a confirmação de um dos meus argumentos de não querer ter filhos e sua comprovação, eu realmente não quero tê-los.
Não quero passar pelo que os pais dessa menina passaram e estão passando e vão passar.
E apesar de isso soar um tanto egoísta e pessimista, lhes digo, eu não quero sofrer, e não quero ver pessoas que eu amo sofrendo. Já basta o que tenho visto e vivido, não quero mais.
A vida tem sofrimentos demais, e passamos por coisas demasiado pesadas para que aprendamos determinadas lições.
Lições duras demais principalmente para crianças como essa menina, que deveria estar brincando com seus amigos e indo em parquinhos ao invés de ter que ficar todas as manhãs no Sírio fazendo o tratamento que ela faz.
Sei que qualquer pessoa que passa por isso sofre e que já tenho experiência demais nesse assunto.
Só que eu sempre fico assim quando vejo alguém chegando lá pela primeira vez. Seja mais velho ou mais novo. Simplesmente me corta o coração.
Porque ninguém nesse mundo merece sofrer o que essa doença faz sofrer. Muito menos uma menina de quase dez anos que não deveria conhecer o que é sofrer assim com tão pouca idade.
É difícil ter a maturidade pra se entender o sofrimento. E ela é nova demais pra ter que entender isso.
E no fim, todos que passam por isso acabam sendo novos demais também.

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