sábado, 31 de janeiro de 2009
Da série: Histórias para se contar - II
Ele chegou à danceteria com suas calças boca de sino e medalhão reluzente sobre a blusa entreaberta que mostrava grande parte de seu peito.
Seus óculos de sol gigantescos foram tirados com um charme que só ele tinha. Ele.
Todas as garotas pararam. O grande campeão chegou.
Aquele que dançava como ninguém e que tinha qualquer garota de lá, bastava querer.
Começou a dançar e pouco a pouco, todos os outros homens ficaram no bar apenas assistindo enquanto as garotas praticamente se atiravam sobre ele.
-Aquele cara ali é o maior maricas, olha só como ele tá dançando.... Eu hein....
-Com certeza, todas as garotas ficam caidinhas por ele. Quando ele chega a gente nem tem mais chance com nenhuma delas...
Ha - pensei eu - Realmente, principalmente vocês dois. Patéticos como são não estão à altura nem daquelas botas maravilhosas que ele tem...
-E você, doçura, tem algum tempinho de folga aí do bar?
-Como? - voltei como se estivesse no meio de um sonho e um despertador tivesse arrancado o ápice da felicidade - Ah, não obrigada.
-Você não tira nenhuma folga na noite?
-Não para você. - fui atender a outro cliente do outro lado do bar e só voltei para lá depois que aqueles dois homens patéticos tinham saído para atormentar duas mocinhas que estavam completamente derretidas pelo rei do salão.
Quando acabou o expediente, enquanto eu ainda secava os copos, alguém entrou, e eu distraída repliquei:
-Hoje já fechamos, abrimos desde as 22:00, e só até as 5:00. Por favor?
-Será que não tem nenhuma pedrinha de gelo pra me emprestar? Dois rapazes acabaram de me acertar algumas... Estavam com ciúmes de duas garotas que estavam comigo...
Ai meu Deus! É ele!!!! E está todo cheio de sangue!!!! -pensei enquanto saí correndo para pegar algumas pedras de gelo e envolvê-las em um pano limpo.
-Como é que te pegaram? Isso tá feio hein...
-Ai!
-Desculpe... deixe-me assoprar...
-Não precisa... - disse ele dando um sorrisinho no canto de sua boca - Já fez muito em me oferecer gelo...
-Mas é claro que não! O senhor é um freguês antigo, como eu poderia recusar ajuda?
-Sua família não se incomoda que você trabalhe aqui durante toda a noite?
-Ah... - meio surpresa com a pergunta e ainda limpando o sangue de seu rosto, vi que seus olhos cintilavam um brilho maravilhoso ainda mais envolvente que sua dança. Aos poucos ele se aproximou de meu rosto e me deu um terno beijo. Após alguns segundos do beijo, disse baixinho ainda de olhos fechados - Eu não tenho família, moro aqui nos fundos da discoteca graças à bondade do dono daqui que não me cobra aluguel e me paga um salário. Não tenho ninguém, nem nada além desse emprego.
-Agora tem.
Sorrimos juntos, nos beijamos juntos, e juntos ficamos aquela noite, e mais outra, e mais outra, até algum tempo depois, quando os olhos dele cintilaram na direção de outra garçonete, em outra discoteca, enquanto eu me mudava para o loft que havia comprado com o trabalho na assessoria jurídica.
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